Os Pactos da Célula
por
Antonio Francisco
- 1 de ago. de 2008
Em nossa igreja temos feito uma reciclagem dos valores cristãos para relacionamentos de qualidade. Quase todos os membros participaram de encontros semanais por três meses com esse propósito. Preguei uma série de mensagens sobre "Os Pacto da Célula":
1. Decido ser gracioso. A Bíblia diz: “Acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus” (Rm 15.7). E mais: "Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição" (Cl 3.13-14). Vivemos numa sociedade de trocas, barganhas, méritos, conquistas e direitos. Você tem que fazer por merecer. Se quiser o amor de alguém, por exemplo, deve conquistar tal pessoa. Isso está longe do amor incondicional, que escolhe amar, edificar e aceitar as pessoas independentemente do que digam ou façam. Ser gracioso não depende do que as pessoas dizem ou fazem. Mesmo que não concorde com suas ações, posso decidir amá-las como pessoas. Cada um de nós deve resolver com a ajuda de Deus ser gentil, reconciliador e gracioso.
2. Decido ser honesto. As palavras de Rui Barbosa sobre honestidade são bem conhecidas: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”. Ser honesto é uma questão de caráter, de índole, de foro íntimo, de princípio de vida, de temor a Deus, de obediência às Sagradas Escrituras. Ser honesto é uma decisão. Honestidade tem a ver com meus valores e com a minha condição interior. “Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida” (Pv 4.23). A pessoa honesta tem em Deus e na sua consciência duas testemunhas permanentes. Devemos seguir a verdade em amor para crescermos em Cristo (Ef 4.15).
3. Decido ser transparente. A nossa maior dificuldade na condição de pecadores é sermos exatamente o que somos, como aconteceu com Adão e Eva (Gn 3.8-10). Ninguém pode se esconder de Deus. Tudo está descoberto e exposto diante daquele, cujos olhos estão em toda parte, observando atentamente os maus e os bons (Hb 4.13; Pv 15.3). Todos somos transparentes diante de Deus por aquilo que ele é e sabe a nosso respeito, mas isso não impede que procuremos sempre conservar a consciência limpa diante de Deus e dos homens (At 24.16). Isso sim, é uma decisão que tenho que tomar; viver de conveniências e aparências, ou ser transparente comigo mesmo, com as pessoas e com Deus. É claro que a minha transparência não expressa a essência de minha nudez interior, pois como bem disse o apóstolo Paulo: “Embora em nada minha consciência me acuse, nem por isso justifico a mim mesmo; o Senhor é quem me julga” (1 Co 4.4). O apóstolo Paulo deu o exemplo do que é ser transparente (Rm 7.15-25).
4. Decido ser uma pessoa de oração. “E longe de mim esteja pecar contra o Senhor, deixando de orar...” (1 Sm 12.23). Já foi dito que se você quiser envergonhar uma pessoa, pergunte pela sua vida de oração. Também já foi observado que a melhor maneira de conhecer o potencial de uma igreja é vendo sua vida de oração. Não é por acaso que na maior igreja evangélica no mundo, a Igreja do Evangelho Pleno de Yoido (Yoido Full Gospel Central Church) em Seul na Coréia, o tempo investido em oração excede qualquer outra atividade na programação semanal. Alguém escreveu que se o Diabo pudesse destruir os dez lugares no mundo que ele mais odeia, ele escolheria os dez lugares onde mais se ora a Deus. Satanás sabe que quando oramos somos invencíveis, porque estamos armados do próprio Deus. Precisamos nos dedicar a oração (Cl 4.2). Orar não é algo natural, mas sim uma atividade espiritual. Por isso que Jesus disse: “O espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26.41). A oração deve ter importância primária em minha vida. Devo fazer o pacto de orar sempre (1 Ts 5.17).
5. Decido ser sensível. Precisamos desenvolver a capacidade de captar e expressar sentimentos. Isso não é automático, deve ser aprendido e cultivado. Ser sensível é perceber o que ficou nas entrelinhas, o que se quis dizer sem ser dito, o que se pensou sem falar, o que se desejou sem fazer. Geralmente ficamos somente no óbvio, no explícito; mas a essência das coisas é percebida pela veia da sensibilidade. Sensibilidade é a capacidade de se relacionar de coração para coração. Todos precisamos ser sensíveis. Jesus foi sensível com a mulher samaritana percebendo suas necessidades (Jo 4).
6. Decido ser disponível. A disponibilidade não costuma ser a primeira virtude percebida em nossa vida cristã. Mas, a Bíblia diz: “Quanto lhe for possível, não deixe de fazer o bem a quem dele precisa. Não diga ao seu próximo: Volte amanhã, e eu lhe darei algo, se pode ajudá-lo hoje” (Pv 3.27-28). Ser disponível é não estar ocupado para o que é necessário, primordial e essencial na vida. Devo ser desimpedido de tudo que me impeça de viver os propósitos de Deus e ser útil ao meu próximo. Devo me concentrar nas melhores coisas deixando de lado aquelas que não são necessárias. Jesus falou isso para Marta, irmã de Maria e Lázaro. Ela censurou sua irmã Maria ao dar toda atenção para a visita de Jesus em sua casa, enquanto ela se preocupava e se inquietava com muitas coisas. Jesus lhe disse que apenas uma coisa é necessária e que Maria havia escolhido a boa parte, e esta não lhe seria tirada (Lc 10.38-42). A chamada “tirania do urgente” tem escravizado muita gente nesses dias de tanta correria. Hoje se vive mais em função das coisas que das pessoas. Brigamos pelas coisas e subestimamos as pessoas. Mas, “a vida de um homem não consiste na quantidade dos seus bens” (Lc 12.15).
7. Decido ser confidente. Ser confidente é ter uma virtude rara. Muitas pessoas não conseguem guardar confidências, o que gera cada vez mais desconfiança nos relacionamentos. A Bíblia diz: “Quem muito fala trai a confidência, mas quem merece confiança guarda o segredo” (Pv 11.13). Outra coisa que dificulta as confidências é que procuramos manipular as pessoas para que elas sejam como queremos. Não aceitamos as pessoas exatamente como elas são. Gosto de uma citação de Dietrich Bonhoeffer: “Deus não deseja que eu veja a outra pessoa de acordo com a imagem que parece boa para mim, isto é, com minha própria imagem; Deus criou esta pessoa à sua própria imagem”. Ser confidente não me torna popular, mas me torna importante para quem em mim confia.
8. Decido fazer prestação de contas. “Assim como o ferro afia o ferro, o homem afia o seu companheiro” (Pv 27.17). Em nossa sociedade ser independente é sinal de maturidade. A gente cresce para ficar independente, ter seu próprio dinheiro, sua própria casa, seu próprio carro, e o melhor, é quando não temos que dar satisfação a ninguém. Será que esse é o melhor caminho para bons relacionamentos e a maturidade? Claro que não. O padrão para o cristão é a interdependência, não a independência ou dependência. Ser interdependente é ser livre sem deixar de considerar as relações interpessoais, pois “quem se isola busca interesses egoístas e se rebela contra sensatez” (Pv 18.1). Cada um de nós deve tomar a iniciativa de procurar uma pessoa idônea para prestar contas. Quando não presto contas de minha vida para ninguém, fico completamente vulnerável a cair, pois passo a ser minha própria referência. Aceito ser questionado, confrontado, corrigido e repreendido, entendendo que isso é a maneira que Deus usa para me aperfeiçoar na vida cristã. Decido não reagir.
9. Decido ser assíduo. “Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas procuremos encorajar-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia” (Hb 10.25). Todos gostam de ler sobre a igreja primitiva. Aqueles irmãos eram dedicados ao ensino da Palavra de Deus, à comunhão e às orações. Havia profundo temor a Deus entre eles. Deus para eles não era apenas um credo, mas uma experiência. Estavam sempre juntos e “tinham tudo em comum”. Vendiam o que tinham para distribuir entre os necessitados. Eram alegres, sinceros e cheios de gratidão a Deus. Eram queridos, tendo a simpatia de todo o povo, e era uma igreja em constante crescimento (At 2.42-47). O estilo de vida simples era admirável. A igreja dos nossos dias precisa voltar às origens. Devemos minimizar os programas e maximizar os relacionamentos. Esses devem ser mais naturais. A assiduidade nos encontros fraternais é um bom sinal de vida cristã.
10. Decido evangelizar. “Quando prego o evangelho, não posso me orgulhar, pois me é imposta a necessidade de pregar. Ai de mim se não pregar o evangelho” (1 Co 9.16). Jesus começou e terminou seu ministério público chamando pessoas para serem pescadores de homens (Mc 1.14-20). Os quatro evangelhos terminam enfatizando a missão de pregar o evangelho (Mt 28.19; Mc 16.15; Lc 24.46-47; Jo 20.21). Com todo esse destaque de Jesus para a evangelização dos povos, os discípulos queriam ficar em Jerusalém, até que Deus os dispersou e eles evangelizavam por onde quer que fossem (At 8.1, 4). A Igreja nunca cresceu tanto como nos primeiros trezentos anos de sua história. A estratégia de Deus para a evangelização é cada crente. Se cada um de nós for fiel cada dia, veremos a expansão do Reino de Deus como nunca antes. Nem todos os crentes têm o dom de evangelista, mas todos são testemunhas de Jesus (At 1.8). Consciente de que a evangelização é uma ordem e não uma opção, que é um privilégio, mais que uma obrigação; decido evangelizar por amor a Cristo e ao meu próximo, entendendo que a obediência de outros trouxe o evangelho a mim. Não poderia ser omisso em cumprir essa missão sublime de evangelizar. Se posso apontar o caminho para o céu ao falar de Jesus, é um pecado ficar calado.
11. Decido trabalhar em equipe. “Os planos fracassam por falta de conselho, mas são bem-sucedidos quando há muitos conselheiros” (Pv 15.22). Numa equipe deve se levar em conta as relações pessoais antes de se falar em tarefas. Isso torna a equipe saudável e produtiva. Sem um bom relacionamento entre os membros da equipe, pode até haver quantidade, mas sem qualidade. O ativismo é uma forma de compensar a falta de intimidade entre seus membros. Uma equipe é composta por pessoas comprometidas, que sempre se aprimoram, tendo um líder que coordena o grupo na busca de metas comuns. Para que uma equipe obtenha êxito, deve buscar a direção de Deus. Mas a qualidade espiritual deve ser encontrada em cada integrante (1 Tm 1-13). O trabalho em equipe deve seguir critérios bem definidos. As metas devem ser avaliadas periodicamente. Numa equipe, cada membro deve saber o que fazer e como fazer e fazer bem. Gosto de uma máxima que diz: “O dever que é de todos acaba não sendo de ninguém”. Por tudo isso, decido trabalhar em equipe, reconhecendo que sozinho nunca farei o que posso fazer em conjunto com outras pessoas que pensam, agem e avaliam comigo. A soma no trabalho evita mais trabalho e gera mais resultados. Trabalhar em equipe reflete o propósito e a natureza de Deus para nós.
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