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Não havia lugar para eles na hospedaria

Quem já não lamentou por não ser reconhecido, valorizado e prestigiado? É verdade que fomos criados com o senso de valorização. É normal que queiramos ser amados. Mas, e quando isso não acontece?

Hoje em minha leitura bíblica fui atraído por uma frase do Evangelho que me fez parar para pensar. José subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, para a Judéia; mais especificamente para a cidade de Belém, a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, atendendo um decreto de César Augusto, que convocou toda a população do império para um recenseamento. Maria estava grávida e já nos dias de dar à luz ao seu filho Jesus. De fato, ao chegarem a Belém a criança nasceu. Como não havia lugar para eles na hospedaria, ficaram numa estrebaria onde Jesus foi colocado numa manjedoura, uma espécie de cocho, onde se colocava a comida dos animais.

Não pude conter minhas lucubrações no decorrer deste dia em torno da expressão: “não havia lugar para eles na hospedaria”. Tratava-se do nascimento de Jesus, o eterno Filho de Deus que se encarnara e que estava prestes a nascer. Por que será que o Pai celestial não separou um lugar para José e Maria no hotelzinho da cidade? Ele poderia ter levado o casal a louvar ao Altíssimo por sua providência em preservar aquele lugar num dos quartos da estalagem. Mas isso não aconteceu. Enquanto os hóspedes descansavam em paz e confortavelmente, Maria, José e o menino Jesus se acomodavam como podiam entre os animais.

A frase “não havia lugar para eles na hospedaria” me fez perceber um pouco mais que Deus não é sentimentalista, ele não é um bonachão, um papai-noel celestial. A Bíblia diz que Deus livra o justo, mas antes diz que são muitas as suas aflições (Sl 34.19). Há os que querem viver para Deus pelo que ele possa fazer por eles, mas com Deus não há barganhas. Ou servimos a ele por nada, ou nada entendemos da vida com Deus. A realidade da vida é a mesma para todos. Não sabemos se é amor ou ódio que nos espera. O futuro nos está oculto. “Tudo sucede igualmente a todos: o mesmo sucede ao justo e ao perverso; ao bom, ao puro e ao impuro; tanto ao que sacrifica como ao que não sacrifica; ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento” (Ec 9.1-2). A diferença não está no que nos acontece, mas no que acontece em nós quando as coisas acontecem.

As pessoas que amam a Deus não estão livres das atrocidades da vida. É por isso que precisamos entrar numa outra dimensão da vida, andando por fé e não pelo que vemos (2Co 5.7). Jesus foi chamado de “homem de dores e que sabe o que é padecer” (Is 53.3). Jó, o homem mais íntegro da terra perdeu tudo, família e bens; os amigos de Daniel foram jogados na fogueira (Dn 3); o próprio profeta Daniel foi colocado na cova dos leões (Dn 6). É verdade que Deus agiu em tudo isso os abençoando, mas não lhes livrou de passarem pelo que passaram. O apóstolo Paulo relacionou alguns de seus sofrimentos por causa do evangelho: prisões, açoites sem medida, muitos perigos de morte, apedrejamento, naufrágios, correu vários riscos em rios, com assaltantes, enfrentou problemas com patrícios e com gentios, na cidade e no campo, teve dores de cabeça com falsos irmãos, passou fome, sede, frio e teve necessidade até de roupa (2Co 11.16-29).

Chegou o tempo de mudarmos nossa cosmovisão. Assim como o Senhor é bom para todos (Sl 145.9; Lc 6.35), todos estão sujeitos a todas as intempéries da vida. Assim como não havia lugar para Jesus nascer na hospedaria, nem sempre encontraremos vaga no estacionamento, nem sempre seremos valorizados, reconhecidos e amados. O apóstolo Paulo alargou o coração para os irmãos de Corinto, ele escancarou-se em amor, mas não obteve retorno (2Co 6.11-13). Jesus disse para os discípulos: “No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16.33).
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