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Longas orações e o juízo de Deus

Você já deve ter lido ou ouvido alguém dizer que “muita oração, muito poder; pouca oração, pouco poder; nenhuma oração, nenhum poder”. Isso é uma verdade absoluta ou uma verdade relativa?

Nenhuma camada social foi mais censurada por Jesus que a classe religiosa dos judeus; aqueles que detinham o comando oficial da religião. Jesus não tolerava a hipocrisia, os rituais vazios e a aparência de piedade sem poder que os identificava. Jesus alertou seus discípulos a terem cuidado com os escribas que gostavam de andar com roupas longas para parecerem ricos e sábios, e das saudações nas praças para terem a reverência das pessoas. Eles amavam ocupar os primeiros lugares onde quer que chegassem, exploravam as viúvas entrando em suas casas para tomarem seus bens, e, para aparentar que eram consagrados homens de Deus, faziam longas orações. Por esse comportamento, Jesus disse que eles sofreriam um juízo muito mais severo (Mc 12.38-40).

A aparência piedosa é contagiante, é como fermento que influencia toda a massa onde penetra (Mc 8.15). É bem mais fácil ser superficial que profundo, ser leviano que leal aos propósitos de Deus. O exibicionismo é atraente e empolgante, mas não diante de Deus. Ele não divide sua glória com ninguém (Is 42.8). Deus não pode suportar o pecado associado ao ajuntamento solene (Is 1.13); quando a adoração é apenas externa ele refuga (Am 5.21-23). Ele sabe quando o louvamos com os lábios, mas mantemos longe dele o coração (Mt 15.8). O esforço religioso pode agravar o juízo de Deus (Mt 23.15). Longas orações são vãs quando feitas sem combinarem com uma vida condizente com a vontade de Deus; ele simplesmente vira o rosto e não as ouve (Is 1.15; 59.1-2).

Minha intenção aqui não é combater longas orações em si. Não estou advogando em favor das chamadas “orações relâmpagos”. A vida de Jacó foi mudada depois de passar uma noite lutando com Deus em oração (Gn 32-22-32). Antes do massacre anunciado contra os judeus que estavam na Pérsia, o povo de Deus orou e jejuou por três dias e três noites (Et 4.15-17). O profeta Daniel costumava orar três vezes por dia. Certa ocasião ele orou e jejuou por três semanas (Dn 6.10; 10.1-21). Mais de uma vez Jesus ensinou sobre “o dever de orar sempre e nunca esmorecer” (Lc 18.1-8). Ele mesmo se afastava para orar e passava noites em oração (Mt 14.23; Lc 6.12). As cartas do apóstolo Paulo falam muito da importância de perseverar em oração (Rm 12.12; Cl 4.2); ensina que devemos orar sem cessar (1Ts 5.17), “orando em todo tempo no Espírito” (Ef 6.18). Quando Jesus orava no Getsêmani, pouco antes de ser preso, não pôde contar com o apoio dos seus discípulos que estavam mais para dormir do que para orar. Foi quando ele lhes disse: “Nem uma hora pudestes vós vigiar comigo?” (Mt 26.40). A expressão “nem uma hora” mostra que Jesus praticava longas orações. Então, devemos orar muito e nunca se ora demais, pois dependemos de Deus sempre.

Mas, isso não contradiz o que estou querendo dizer sobre “longas orações e o juízo de Deus”. A Bíblia diz que “no muito falar não falta transgressão” (Pv 10.19), inclusive em oração diante de Deus. Quando entramos na Casa de Deus é melhor ouvir. Não devemos nos precipitar com a boca, nem se apressar a pronunciar palavra alguma diante de Deus. Nossas palavras devem ser poucas ao falar com aquele que está nos céus. As muitas palavras em oração podem nos fazer néscios, prometendo a Deus o que talvez não seja cumprido. Falar demais em oração pode provocar a ira de Deus. Orações longas podem ser nada mais que vaidade. O que importa mesmo é temer a Deus (Ec 5.1-7). Cuidemos para que as longas orações não sejam “vãs repetições”, achando que por fazer longas orações seremos mais bem ouvidos. Deus sabe o que necessitamos, antes de orarmos (Mt 6.7-8). Sejamos comprometidos em orar, mas sem barganhas com Deus pelo relógio.
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1 Comentário

Moisés Ribeiro disse...

Gosto de orar mesmo é no Espírito, se foi muito, foi no Espírito! Oh glórias gloriosas.