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A Crucificação

Falar da cruz é falar de algo radical. A cruz é mais que um ornamento, um símbolo ou sinal na testa como uma espécie de feitiço. Muitos reverenciam a cruz, mas poucos sabem do seu significado e do seu poder.

A crucificação para Jesus foi muito difícil em todos os aspectos. Depois de ser prezo e declarado réu de morte pelas autoridades, Jesus foi levado para um lugar chamado Gólgota, que significa Lugar da Caveira. Ali, deram-lhe vinho com fel para beber, mas ele recusou. Teria aquilo a intenção de anestesiá-lo para o sofrimento que viria? Ele manteve sua lucidez até a morte, quando se entregou ao Pai. Jesus sofreu no espírito com o desamparo de Deus, sofreu social e moralmente com o desprezo dos homens, e sofreu fisicamente. Os que passavam pelo local da crucificação blasfemavam dele, as autoridades religiosas escarneciam dele, até mesmo os dois ladrões crucificados juntamente com ele lhe lançavam impropérios.

Não consigo calcular a dimensão de tamanho sofrimento, mas posso entender o propósito de tudo aquilo. Pouco antes, quando a multidão veio para prendê-lo, um dos apóstolos sacou da espada e golpeou a orelha do servo do sumo sacerdote. Jesus não aprovou aquela atitude. Ele disse que poderia pedir ao Pai e ele lhe mandaria naquele instante uma multidão de anjos para livrá-lo. Mas, se assim fizesse, como se cumpririam as Escrituras? Ou seja, a crucificação de Jesus poderia ter sido evitada. Ele não foi um refém do poder romano e judeu. Ele morreu porque quis. Ele disse aos discípulos ser necessário ir para Jerusalém para sofrer, morrer e ressuscitar no terceiro dia (Mt 16.21-23). Noutro lugar ele disse: “... eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandamento recebi de meu Pai” (Jo 10.17-18).

A cruz era central para Jesus. Ele sabia que não era uma vítima. Está escrito que nos planos de Deus ele foi morto desde a fundação do mundo (Ap 13.8). O autor da carta aos Hebreus disse acerca de Jesus que, “em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus” (Hb 12.2). A crucificação de Jesus em nosso favor deve nos encorajar a não ficar fatigado, desmaiando em nossas almas (Hb 12.3).

A cruz é radical. Como disse A. W. Tozer, só podemos fazer duas coisas em relação à cruz: fugir ou morrer nela. Se fugirmos, estaremos pondo fora a verdadeira vida cristã. Não há vida cristã sem a cruz. Jesus “dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23). Paulo disse: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo” (Gl 6.14). A mensagem do apóstolo Paulo era fundamentada na cruz de Jesus. Ele disse aos coríntios: “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Co 2.2).

O que vamos fazer com a cruz? Fugir ou morrer nela? Hoje a cruz é usada no pescoço, na parede, no altar. Ela é cantada, comentada e discursada, mas sua mensagem não tem sido assimilada e vivida. Vivemos na era da satisfação e não da crucificação. Não queremos morrer na cruz, nossa vontade e desejos querem fugir da cruz e temos que decidir. Como já disse, a cruz é radical. Não há meio termo, morremos ou fugimos. A Bíblia diz: “Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria” (Cl 3.5). Sei que não é agradável falar da morte de nossa natureza pecaminosa, mas termino com uma ilustração bíblica excelente: “Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto” (Jo 12.24).
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