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Andando sobre as águas

Andar sobre as águas não é comum, mas é possível. Só andamos sobre as águas se sairmos do barco, e é isso o que não queremos. Jesus não elogiou Pedro por andar sobre as águas, mas o censurou por submergir.

A vida está cheia de possibilidades que não percebemos, ignoramos ou rejeitamos. Estudos concluíram que cada pessoa tem entre quinhentas a setecentas habilidades ou talentos. Isso mostra o quanto somos capazes e onde podemos chegar, mas a grande maioria vive e morre sem explorar o potencial que tem. Quantos poderiam ser profissionais excelentes, cientistas, pintores, médicos, excelentes donas de casa, louváveis pais de família, professores, músicos, e tantas outras coisas, mas nada disso acontece. As águas nos desafiam, mas o barco nos prende.

O Evangelho de Mateus capítulo 14 fala de uma experiência inusitada. Jesus veio ao encontro dos discípulos em alto mar numa madrugada tempestuosa. Além de desanimados com o que acontecia, pois temiam morrer, ficaram aterrados ao verem Jesus andando sobre as águas pensando tratar-se de um fantasma. Trocaram a crença pela crendice, confundiram o real com o imaginário. Será que os discípulos conheciam melhor o mundo da fantasia que o universo da fé? Mas um entre eles foi mais ousado e perspicaz. Pedro reconheceu Jesus e quis ir ao seu encontro. O que provocou aquela reação em Pedro? Seria fé, precipitação, amor? Talvez um pouco de tudo isso. Ele saiu do barco e andou sobre as águas. Tudo funcionou enquanto ele confiou no Senhor para quem olhava firmemente. Aqui temos uma grande lição. Jesus é o Autor e Consumador da fé. Ele nos capacita a andar sobre as tempestades da vida. Mesmo que estejamos rodeados de exemplos de fé, é para Jesus que devemos olhar. O pecado pesa e nos afunda, por isso devemos deixá-lo para poder andar desembaraçadamente (Hb 12.1-2).

Quando Pedro começou a submergir, gritou pedindo socorro. Ele era um pescador experiente, mas a força do vento e o tamanho das ondas não estavam pra peixe, muito menos pra pescador. Conquanto fosse um conhecedor daquele ambiente, a situação era amedrontadora. Assim é a vida, mesmo em nosso ambiente mais familiar estamos sujeitos a tempestades repentinas que nos deixam sem chão. O que fazer em situações assim? Proceder com fé. O problema de Pedro não foi sair do barco, pois naquele contexto não havia segurança nenhuma, o problema dele foi não crer que poderia continuar andando sobre as águas ao encontro de Jesus. Foi por isso que Jesus lhe disse: “Homem de pequena fé, por que duvidaste?”. Jesus pode nos capacitar a andar sobre as águas, mas ele não pode crer por nós. Enquanto Pedro confiou, ele andou, quando duvidou, naufragou. Acho estranho quando ouço alguns pregadores da mídia dizer: “Se você não crer, venha pela minha fé e Deus vai lhe abençoar”. A fé é pessoal, não é transferível nem hereditária. “Cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus” (Rm 14.12).

O profeta Habacuque fez uma oração em forma de canto e no final disse: “O Senhor Deus é a minha fortaleza, e faz os meus pés como os da corça, e me faz andar altaneiramente” (Hc 3.19). Para o nosso interesse no momento, quero destacar apenas a palavra “altaneiramente”. É isso o que Deus faz por aqueles que nele confiam, ele nos faz andar por sobre as tempestades da vida. Nem sempre ele evita as circunstâncias difíceis, mas costuma nos livrar enquanto passamos por elas, como aconteceu com os amigos de Daniel na fornalha ardente (Dn 3). Pedro nunca antes havia andado sobre as águas, mas talvez nunca tivesse passado por circunstâncias semelhantes. As experiências difíceis nos revelam, talvez seja por isso que Deus nos permite enfrentar ondas bravias. A fé em Jesus nem sempre nos livra das tempestades, mas nos possibilita andar por sobre as ondas, desde que não tiremos os olhos de Jesus.
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