O Cânon das Escrituras
por
Antonio Francisco
- 30 de mai. de 2007
Deus fala com os homens de muitas maneiras, mas nossa atenção deve ser voltada principalmente para as palavras escritas de Deus na Bíblia. Mas para isso precisamos saber quais os escritos que pertencem à Bíblia e quais não. Os teólogos chamam isso de cânon das Escrituras, que é a lista de todos os livros que pertencem à Bíblia.
O cânon é importante porque nos faz entender que apenas as Escrituras Sagradas são vida para nós, como disse Moisés ao povo de Israel: “Guardem no coração todas as palavras que hoje lhes declarei solenemente, para que ordenem aos seus filhos que obedeçam fielmente a todas as palavras desta lei. Elas não são palavras inúteis. São a sua vida. Por meio delas vocês viverão muito tempo na terra da qual tomarão posse do outro lado do Jordão” (Dt 32.46-47). Além disso, o cânon nos ajuda a não aumentar ou diminuir as Palavras de Deus na Bíblia: “Nada acrescentem às palavras que eu lhes ordeno e delas nada retirem, mas obedeçam aos mandamentos do SENHOR, o seu Deus, que eu lhes ordeno” (Dt 4.2).
A. O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO
O cânon bíblico tem início com os dez mandamentos, pois Deus os escreveu: “Quando o SENHOR terminou de falar com Moisés no monte Sinai, deu-lhe as duas tábuas da aliança, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus” (Êx 31.18). Moisés também escreveu as Escrituras Sagradas: “Depois que Moisés terminou de escrever num livro as palavras desta lei do início ao fim, deu esta ordem aos levitas que transportavam a arca da aliança do SENHOR: Coloquem este Livro da Lei ao lado da arca da aliança do SENHOR, do seu Deus, onde ficará como testemunha contra vocês” (Dt 31.24-26). Após a morte de Moisés, Josué também ampliou a coleção das palavras escritas de Deus: “Josué registrou essas coisas no Livro da Lei de Deus” (Js 24.26). Mas, se Josué sabia que não deveria acrescentar nem diminuir nada da Palavra de Deus (Dt 4.2), ele deve ter sido convencido de que não estava por conta própria aumentando as palavras escritas de Deus, mas que o próprio Deus tinha autorizado esse acréscimo.
Mais tarde, outros em Israel, em geral os profetas, acrescentaram palavras da parte de Deus. (Veja 1 Sm 10.25; 1 Cr 29.29; Jr 30.2). O conteúdo do cânon do Antigo Testamento continuou aumentando até o fim do processo de escrita, com Malaquias em 435 a.C.. Depois disso não houve mais acréscimos ao cânon do Antigo Testamento. A história do povo judeu foi registrada em outros escritos, tais como os livros dos Macabeus, mas eles não foram considerados dignos de inclusão na coleção das palavras de Deus que vinham dos anos anteriores.
No Novo Testamento, não há nenhuma controvérsia entre Jesus e os judeus sobre a extensão do cânon. Ao que parece, havia um acordo entre eles quanto ao cânon do Antigo Testamento. Das centenas de citações do Antigo Testamento no Novo Testamento, não há nenhuma menção aos escritos apócrifos como tendo autoridade divina. Isso mostra claramente que havia uma consciência quanto ao cânon sagrado.
Os livros apócrifos foram incluídos na Bíblia pela Igreja Católica Romana em 1546 no Concílio de Trento, mas rejeitados pelo Protestantismo. Esse concílio foi a resposta da Igreja Católica Romana aos ensinos de Martinho Lutero e da Reforma Protestante que se espalhavam rapidamente. Jerônimo incluiu os apócrifos em sua tradução da Bíblia, a Vulgata (completada em 404 d.C.). Mas o próprio Jerônimo afirmou que os apócrifos não eram “livros do cânon”, mas apenas “livros da igreja”.
Ao incluir os apócrifos no cânon, os católicos estariam alegando que a igreja tem autoridade para designar uma obra literária como “Escritura”, enquanto os evangélicos sustentam que a igreja apenas reconhece o que Deus já determinou como Palavra de Deus. Ilustrando, podemos dizer que, um investigador de polícia pode reconhecer uma nota como falsa e outra como verdadeira, mas não pode tornar uma nota falsa em genuína. Assim também, só Deus pode fazer com que palavras sejam palavras suas e dignas de inclusão nas Escrituras.
B. O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO
O Antigo Testamento fecha com a expectativa do Messias que estava por vir (Ml 3.1-4; 4.1-6). Não é de estranhar que não tenha havido nenhum acréscimo nas Escrituras até que tivesse ocorrido esse próximo e maior evento na história da redenção.
O desenvolvimento do cânon do Novo Testamento começa com os escritos dos apóstolos. Eles são vistos como detentores de autoridade igual à dos profetas do Antigo Testamento (Veja At 5.3-4; 2 Pe 3.1-2).
Paulo tinha certeza que falava da parte de Deus. Ele disse: “visto que vocês estão exigindo uma prova de que Cristo fala por meu intermédio. Ele não é fraco ao tratar com vocês, mas poderoso entre vocês” (2 Co 13.3). Ele disse mais: “Mas ainda que nós ou um anjo dos céus pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado! Como já dissemos, agora repito: Se alguém lhes anuncia um evangelho diferente daquele que já receberam, que seja amaldiçoado!” (Gl 1.8-9).
As cartas do apóstolo Paulo são chamadas de Escrituras: “Tenham em mente que a paciência de nosso Senhor significa salvação, como também o nosso amado irmão Paulo lhes escreveu, com a sabedoria que Deus lhe deu. Ele escreve da mesma forma em todas as suas cartas, falando nelas destes assuntos. Suas cartas contêm algumas coisas difíceis de entender, as quais os ignorantes e instáveis torcem, como também o fazem com as demais Escrituras, para a própria destruição deles” (2 Pe 3.15-16. Veja também 2 Tm 3.16-17).
O apóstolo Paulo cita o Novo Testamento, colocando-o em pé de igualdade com os escritos do Antigo Testamento. Veja as seguintes passagens: 1 Timóteo 5.17-18; Deuteronômio 25.4; Lucas 10.7.
Como tratar alguns livros que não foram escritos por apóstolos, como Marcos, Lucas, Atos, e talvez Hebreus e Judas? Mesmo não sendo apóstolos, esses escritores tinham o endosso dos apóstolos.
Devemos esperar que algum outro escrito seja acrescentado ao cânon? A resposta parece encontrar-se em Hebreu 1.1-2: “Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo”. Sendo Jesus a maior revelação de Deus para a humanidade, nada mais deve ser esperado, pois ela está completa. Dessa forma concluímos que nenhum outro escrito pode ser acrescentado à Bíblia após o tempo do Novo Testamento. O cânon está fechado agora.
“Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4.12).
“Declaro a todos os que ouvem as palavras da profecia deste livro: Se alguém lhe acrescentar algo, Deus lhe acrescentará as pragas descritas neste livro. Se alguém tirar alguma palavra deste livro de profecia, Deus tirará dele a sua parte na árvore da vida e na cidade santa, que são descritas neste livro” (Ap 22.18-19).
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