Amy Carmichael diz que “nada que alguém nos faça pode nos prejudicar, a menos que tenhamos uma reação errada em nosso espírito”. Aí posso concluir que a grande maioria dos meus problemas não está naquilo que acontece comigo, mas, no que acontece em mim. A minha reação é mais importante que a ação dos outros em relação a mim. Dessa forma, entendo que nada do que alguém me faça poderá me fazer mal, a não ser que eu tenha uma atitude errada em relação àquela ação. É bem verdade que não posso controlar o que possam fazer comigo, mas pela graça de Deus posso controlar minha reação. Nisso reside toda a diferença de uma pessoa para outra naquilo que lhes acontece.

Não sou adepto do fatalismo, pois não considero que todos os acontecimentos estejam irrevogavelmente fixados antecipadamente pela casualidade ou uma força sobrenatural. Não, o que creio é que existe um Deus Todo-poderoso que dirige o universo em seus mínimos detalhes, e o que para nós pode parecer um acaso, é um decreto dEle. Por isso que a Bíblia diz: “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito” (Rm 8.28). José do Egito também cria assim, pois ele disse para seus irmãos: “Vocês planejaram o mal contra mim, mas Deus o tornou em bem, para que hoje fosse preservada a vida de muitos” (Gn 50.20). Ele não ficou zangado com os que lhe fizeram o mal porque acreditava que tinha alguém superior trabalhando em tudo para o seu bem. Em tudo existe um propósito eterno.

“Para cada dor que devemos suportar / Para cada tristeza, sim, para cada pesar, / Há um motivo. / Para cada falsidade proferida, / Para cada lágrima vertida, / Há um motivo. / Para cada tristeza e aflição, / Para cada milha percorrida em solidão, / Há um motivo. / Mas se confiarmos em Deus como convém, / Tudo cooperará para o nosso bem; / Deus conhece o motivo”.

Não entendemos muito do que nos acontece hoje e nem temos que entender. Um dia saberemos da parte de Deus que tudo visava o nosso bem, Deus estava no controle. Não era exatamente isso que se passava pela cabeça de Abraão quando Deus o mandou para uma terra que ele desconhecia? Ele não sabia para onde estava indo, mas sabia que Deus estava indo com ele. Quando olhamos na Bíblia a história de Jó, notamos esse princípio aqui defendido. Ele não sabia que o Diabo era o agente de toda aquela maldade, mas atribuía tudo a Deus. Depois de perder tudo - filhos e bens, veja qual foi a sua reação: “Ao ouvir isso, Jó levantou-se, rasgou o manto e rapou a cabeça. Então prostrou se, rosto em terra, em adoração, e disse: Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei. O SENHOR o deu, o SENHOR o levou; louvado seja o nome do SENHOR. Em tudo isso Jó não pecou e não culpou a Deus de coisa alguma” (Jó 1.20-22). Ele até reclamou em alguns momentos do sofrimento, mas no final ele reconheceu que Deus estava no controle de tudo e aceitou que tudo foi para o seu bem. Ele disse para Deus: “Sei que podes fazer todas as coisas; nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Tu perguntaste: ‘Quem é esse que obscurece o meu conselho sem conhecimento?’ Certo é que falei de coisas que eu não entendia, coisas tão maravilhosas que eu não poderia saber. Tu disseste: ‘Agora escute, e eu falarei; vou fazer-lhe perguntas, e você me responderá’. Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram. Por isso menosprezo a mim mesmo e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42.2-6). Jó atribuía tudo a Deus. Nosso problema moderno é querer atribuir tudo o que nos parece negativo ao Diabo. Dizer que tudo o que nos acontece de bom é ação de Deus e tudo o que nos acontece de mal é ação do Diabo, é defender uma teologia de fundo de quintal, não tem respaldo bíblico. Concordo com Lutero quando disse: “O Diabo é o Diabo de Deus”. Ele queria dizer que o Diabo é como uma enxada nas mãos de Deus, ele só capina onde Deus quiser. O profeta Habacuque parecia aderir a essa teologiazinha, mas quando ele compreendeu que o justo vive pela fé (Hc 2.4), ele descansou e disse: “Mesmo não florescendo a figueira, e não havendo uvas nas videiras, mesmo falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral nem bois nos estábulos, ainda assim eu exultarei no SENHOR e me alegrarei no Deus da minha salvação. O SENHOR, o Soberano, é a minha força; ele faz os meus pés como os do cervo; faz-me andar em lugares altos” (Hc 3.17-19).

Junte-se a mim e vamos começar ver Deus em tudo. O profeta Isaías teve uma visão onde viu e ouviu anjos dizerem para Deus: “Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos, a terra inteira está cheia da sua glória” (Is 6.3). Gosto dessa expressão que diz que a terra inteira está cheia da glória de Deus. Precisamos ter olhar de anjo, ver Deus em tudo. Quando vemos Deus em tudo, tudo fica cheio de Deus.