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A Essência da Natureza do Homem

O que a Bíblia quer dizer com “alma” e “espírito”? Será que são a mesma coisa? De quantas partes compõe-se o homem? Todos concordam que temos um corpo físico. A maioria das pessoas (tanto cristãos quanto não cristãos) sentem que têm uma parte imaterial – uma “alma” que sobreviverá à morte do corpo. Mas aqui termina a concordância.

A. TRICOTOMIA, DICOTOMIA E MONISMO

Algumas pessoas crêem que, além do “corpo” e da “alma”, temos uma terceira parte, um “espírito” que se relaciona mais diretamente com Deus. Essa concepção se chama tricotomia. Para os tricotomistas, a “alma” abarca o intelecto, as emoções e a vontade. O “espírito” é uma faculdade superior, que surge quando a pessoa se torna cristã (Rm 8.10). O espírito da pessoa seria a parte dela que mais diretamente adora e ora a Deus (Jo 4.24; Fp 3.3).

Para outros, alma e espírito são sinônimos. Essa concepção se chama dicotomia. É a idéia de que o homem é composto de duas partes: material e espiritual. Mesmo que a palavra “alma” e a palavra “espírito” sejam usadas distintamente, elas querem dizer a mesma coisa.

Fora do campo evangélico, existe a idéia de que o homem não pode existir separado do corpo, e que a alma não pode jamais separar-se do corpo. O homem é composto de um único elemento, e que seu corpo é a própria pessoa. Essa concepção se chama monismo. Para o monismo, “alma” e “espírito” é outro modo de falar da própria pessoa. Essa idéia não é adotada pelos evangélicos porque a Bíblia afirma claramente que a alma ou espírito sobrevive à morte do corpo (Gn 35.18; Sl 31.5; Lc 23.43, 46; At 7.59; Fp 1.23-24; 2 Co 5.8; Hb 12.23; Ap 6.9; 20.4).

B. DADOS BÍBLICOS

A ênfase bíblica está na unidade global do homem como criatura de Deus (Gn 2.7; 1 Co 15.51-54). Devemos crescer em santidade e amor a Deus em cada aspecto de nossa vida (1 Co 7.34; 2 Co 7.1).

1. A Bíblia fala de “alma” e “espírito” indistintamente. Na linguagem bíblica é comum o paralelismo hebraico, o artifício poético em que a mesma idéia é repetida com o uso de palavras diferentes mas sinônimas (Lc 1.46-47).

2. Na morte, “alma” e “espírito” partem. A Bíblia tanto diz que o espírito volta para Deus quando morremos, como a alma é pedida nessa ocasião (Ec 12.7; Lc. 12.20).

3. O homem é tido como “corpo e alma” e como “corpo e espírito”. Jesus falou de alma como sendo a parte da pessoa que persiste após a morte (Mt 10.28). Mas a Bíblia também fala do homem como sendo corpo e espírito (1 Co 5.5).

4. A “alma” pode pecar, ou o “espírito” pode pecar. Alma ou espírito podem pecar (1 Pe 1.22; 2 Co 7.1).

5. O que a alma faz o espírito faz. Alma e espírito podem sentir emoções (Pv 17.22; Jo 13.21).

C. ARGUMENTOS EM FAVOR DA TRICOTOMIA

Os que adotam a posição tricotomista buscam apoio em várias passagens das Escrituras. Relacionamos abaixo as mais comumente usadas.

“Que o próprio Deus da paz os santifique inteiramente. Que todo o espírito, a alma e o corpo de vocês sejam preservados irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5.23).

“Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4.12).

“Quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas são discernidas espiritualmente. Mas quem é espiritual discerne todas as coisas, e ele mesmo por ninguém é discernido; pois quem conheceu a mente do Senhor para que possa instruí-lo? httNós, porém, temos a mente de Cristo. Irmãos, não lhes pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a crianças em Cristo. Dei-lhes leite, e não alimento sólido, pois vocês não estavam em condições de recebê-lo. De fato, vocês ainda não estão em condições, porque ainda são carnais. Porque, visto que há inveja e divisão entre vocês, não estão sendo carnais e agindo como mundanos? Pois quando alguém diz: Eu sou de Paulo, e outro: Eu sou de Apolo, não estão sendo mundanos?” (1 Co 2.14-3.4).

“Pois, se oro em uma língua, meu espírito ora, mas a minha mente fica infrutífera” (1 Co 14.14).

Alguns argumentam que têm uma percepção de Deus que vai além do pensamento comum e das emoções. A isso dizem ser uma experiência que acontece no espírito e não na alma.

Outro argumento diz que é o nosso espírito que nos faz diferentes dos animais, pois animais têm alma, mas não espírito, dizem.

Um outro argumento também diz que o espírito é aquilo que recebe vida na regeneração. Dizem que quando nos convertemos nosso espírito recebe vida.

D. RESPOSTAS AOS ARGUMENTOS EM FAVOR DA TRICOTOMIA

Em 1 Tessalonicenses 5.23 a expressão “todo o espírito, a alma e o corpo” é por si só inconcludente. Quer dizer que devemos nos santificar em tudo até o dia de nosso Senhor Jesus Cristo.

Em Hebreus 4.12 o argumento é o mesmo. A Palavra de Deus pode penetrar nos elementos mais profundos de nosso ser.

Em 1 Coríntios 2.14-3.4 Paulo não fala que o homem natural não tem espírito e sim o espiritual. Ele diz que espiritual é quem se coloca sob a influência do Espírito Santo de Deus.

Em 1 Coríntios 14.14 ele quer dizer que a mente infrutífera significa não entender o que se dizia, mostrando o aspecto espiritual que às vezes atua independentemente de termos consciência do modo como atua.

Não existe a distinção entre alma e espírito quando nos relacionamos com Deus. É apenas uma diferença de terminologia mas não são elementos distintos.

Quanto à distinção dos animais, é claro que somos diferentes deles, mas isso não se dá apenas no que diz respeito ao espírito, pois podemos adorar a Deus com a alma (mente, pensamentos). Nossa distinção está na capacidade espiritual que Deus nos deu. Se chamarmos isso de alma ou espírito, pouco importa.

O espírito humano não é algo morto que recebe vida quando a pessoa professa fé em Cristo, pois os descrentes também têm um espírito vivo, mas rebelde diante de Deus (Dt 2.30).

E. TEMOS UMA PARTE IMATERIAL QUE PODE EXISTIR SEM O CORPO

As Escrituras deixam bem claro que realmente temos uma alma distinta do corpo físico, que não só pode funcionar com relativa independência dos nossos processos mentais, mas também, quando morremos, é capaz de continuar conscientemente agindo e relacionando-se com Deus fora do corpo.

Veja Lucas 23.43; Atos 7.59; Filipenses 1.23; 2 Coríntios 5.8; Apocalipse 6.9-10.

F. DE ONDE VEM NOSSA ALMA?

Criacionismo. É a concepção de que Deus cria uma nova alma para cada pessoa e a envia ao corpo da pessoa em algum momento entre a concepção e o nascimento (Sl 127.3; Sl 139.13; Is 42.5; Zc 12.1; Hb 12.9).

Traducionismo. Sustenta que a alma e o corpo da criança são herdados dos pais no momento da concepção (Gn 1.27, 24; 5.3).

Preexistencialismo. Preconiza que as almas das pessoas existem no céu muito antes dos corpos serem concebidos no ventre das mães, e que Deus depois traz a alma à terra, unindo-a ao corpo do bebê enquanto ele se desenvolve no útero. Essa tese não tem apoio de teólogos confiáveis.
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Teologia Sistemática, Wayne Grudem – Edições Vida Nova.

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