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O sedentarismo brasileiro

Metade dos brasileiros não pratica atividade física, revela pesquisa inédita da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia) com 2.012 pessoas entre os 18 e 70 anos. O sedentarismo, associado à dieta inadequada, é o principal fator de risco para as doenças cardiovasculares, que matam 300 mil por ano no país.

O levantamento, realizado pelo Datafolha e que será divulgado hoje durante o Congresso Brasileiro de Cardiologia, mostra que o índice de sedentarismo cresce conforme a pessoa envelhece. Dos 18 aos 24 anos, 39% dos brasileiros não praticam atividades físicas.

Na faixa etária de 25 a 44 anos, a taxa de sedentarismo aumenta para 50%. Dos 45 aos 59 anos, passa para 53%. E entre os idosos de 60 a 70 anos chega ao seu ápice: 57% levam uma vida sedentária.

Nos EUA, o índice de sedentarismo é estimado em 60%. O país-modelo é a Finlândia: apenas 8% dos habitantes não praticam atividade física.

Da metade dos brasileiros que praticam exercícios, apenas 20% o fazem diariamente, forma considerada ideal pelos médicos. A pesquisa revelou que os homens se exercitam mais do que as mulheres: 60% contra 41%. A caminhada ou a corrida, ao lado do futebol, é o esporte preferido por 26% dos homens. Entre as mulheres, ela lidera absoluta: tem 31% das preferências.

Segundo o cardiologista Álvaro Avezum, diretor de promoção à saúde cardiovascular da SBC, o sedentarismo da população está diretamente relacionado à “absoluta mecanização nas grandes cidades”.

“A gente só anda de carro porque não tem segurança de andar a pé. Pega o elevador em vez de usar a escada e, em casa, usa o controle remoto. Essa qualidade de vida só nos faz adoecer”, afirma o médico, que diz praticar uma hora de corrida em esteira por dia.

“Não sou hipócrita. O que eu recomendo aos meus pacientes no consultório, faço em casa.” Entre os cardiologistas, o índice de sedentarismo é de 30%, segundo a SBC. Para Avezum, não basta uma mudança individual, é preciso transformações sociais para estimular as pessoas a se movimentarem, com a criação de espaços públicos que propiciem atividades físicas.

Cardiopata e sedentária, a arquiteta Cibele Taralli, professora da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), sente a falta de opção de espaços na própria pele. “Moro em Pinheiros, um bairro poluído, sem praças e parques por perto. Não tem como andar na rua.”

Cibele, 53, conta que vive recebendo “puxão de orelha” do cardiologista. “Faço algumas caminhadas, mas logo desisto.”

Caminhar esporadicamente não traz benefício cardiovascular, afirma Avezum. A “prescrição” é meia hora de atividade moderada todos os dias ou uma hora três vezes por semana. “Tem que suar e cansar.”

Fonte: FolhaOnline

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