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Os relacionamentos do cristão

Depois de falar do caráter (5.3-12), da influência (5.13-16), da relação cristã com a lei (5.17-48), da piedade (6.1-18) e dos valores cristãos (6.19-34); Jesus conclui o Sermão do Monte falando dos relacionamentos do cristão (7.1-27), pois a vida cristã acontece nos relacionamentos e não no isolamento.

1. Nossa atitude para com o irmão em falha (vs. 1-5). Jesus nunca disse que sua igreja seria perfeita aqui na terra. Certa ocasião ele disse que seriam inevitáveis os tropeços (Mt 18.7). Sua igreja teria problemas de relacionamentos.

“1. Não julguem, para que vocês não sejam julgados. 2. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês. 3. Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? 4. Como você pode dizer ao seu irmão: Deixe-me tirar o cisco do seu olho, quando há uma viga no seu? 5. Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão” (Mt 7.1-5).

Como um cristão deve agir em relação a um irmão na fé que se comporta mal? Com as palavras, “não julguem, para que vocês não sejam julgados”, Jesus não estava combatendo as instituições legais, até porque o contexto aqui trata de nossa responsabilidade de uns com os outros. Jesus também não está mandando suspender nosso senso crítico para que ignoremos a diferença entre o certo e o errado. Como evitar dar “o que é sagrado” aos cães, ou “pérola aos porcos” (v. 6), ou ter “cuidado com os falsos profetas” (v. 15), sem usar nossa capacidade de julgamento!?

Então o que ele quis dizer quando disse “não julguem?”. Ele disse que devemos usar nosso senso crítico (discernimento), mas não devemos ser juízes no sentido de censurar as pessoas, condenando-as severamente em suas intenções. Não devemos ser juízes de ninguém (Rm 14.4), esse papel pertence a Deus. Quem julga, mais facilmente será colocado no banco dos réus (Rm 3.1; Tg 3.1). A ordem de não julgar, não é para sermos cúmplices das coisas erradas, mas sermos generosos.

Nos capítulos 5 e 6 de Mateus Jesus alerta do perigo de sermos hipócritas diante de Deus com uma falsa piedade. Agora chama nossa atenção para não sermos hipócritas diante das pessoas, interferindo nas pequenas falhas alheias e ignorando nossos erros mais graves. Lembrar que também sou pecador quando tento julgar os outros, deve me tornar mais humilde.

A ilustração de querer tirar um cisco no olho do meu irmão, quando no meu olho tem uma viga, mostra nossa tendência de exagerar as faltas alheias e diminuir a gravidade das nossas. Ao mesmo tempo, a hipocrisia tem uma aparência de bondade (tirar um cisco do olho de alguém). Ao invés de julgar os outros, devemos examinar a nós mesmos para não sermos julgados (1 Co 11.31). Tirando primeiro a viga de nosso olho, podemos ver melhor como tirar o cisco do lho do irmão, e ele nos amará por isso, se ele for sábio (Pv 9.8).

O fato de Jesus condenar o julgarmos os outros e a hipocrisia, não nos isenta da responsabilidade de uns pelos outros. Há lugar para reprovar e corrigir nosso irmão, sem esquecer de primeiro resolver o problema do nosso olho. O cisco no olho prejudica, e nosso amor fraterno deve ajudar o irmão a se livrar dele. Não devemos condenar nosso irmão como um juiz, nem ser um hipócrita que acusa enquanto se justifica. Antes, devemos nos corrigir e corrigir o nosso irmão. Devemos ser críticos conosco como somos com os outros, e generosos com os outros como somos conosco.

2. Nossa atitude para com os “cães” e os “porcos” (v. 6). A linguagem de Jesus aqui é muito dura. Aliás, ele chamou alguns de “sepulcros caiados”, “serpentes”, “raça de víboras”, e “raposa” (Mt 23.27, 33; Lc 13.32). Algumas pessoas agem como animais, e com os tais devem ser comparados.

“Não dêem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos; caso contrário, estes as pisarão e, aqueles, voltando-se contra vocês, os despedaçarão” (Mt 7.6).

Não devemos julgar os outros, mas também não devemos fazer vista grossa para a má conduta das pessoas como se todas fossem iguais. Mas quem são essas pessoas com hábitos de sujeira? São os incrédulos que nunca nasceram de novo (2 Pe 2.22). Mas vai além disso: são os incrédulos que tiveram ampla oportunidade de ouvir e aceitar a mensagem do Evangelho de Jesus, mas decidiram não o aceitar de forma explícita, preferindo uma vida depravada. Para algumas pessoas, a atitude mais apropriada é sacudir a poeira dos pés (Mt 10.14; Lc 10.10-11; At 13.44-51; 18.5-6).

Não podemos rebaixar o evangelho de Cristo, permitindo que ele seja pisoteado por pessoas “sujas” que decidiram viver longe de Deus. Mas não se pode deixar de considerar a seriedade de desistir das pessoas. Isso só deve acontecer em casos extremos. Normalmente devemos ser pacientes com as pessoas, como Deus foi conosco quando ainda estávamos na ignorância.

3. Nossa atitude para com o nosso Pai celeste (vs. 7-11). Aqui Jesus passa de nosso relacionamento com os homens, para nosso relacionamento com Deus, nosso Pai que está nos céus.

“7. Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta. 8. Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e àquele que bate, a porta será aberta. 9. Qual de vocês, se seu filho pedir pão, lhe dará uma pedra? 10. Ou se pedir peixe, lhe dará uma cobra? 11. Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem! 12. Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas” (Mt 7.7-11).

Aqui mais uma vez Jesus nos incentiva a orar ousada e persistentemente, dando-nos promessas maravilhosas de sua graça. Ele nos mostra o valor da repetição com ênfase ascendente: “Peçam… busquem… batam…” (v. 7). As promessas valem para todos nós: “Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e àquele que bate, a porta será aberta” (v. 8). Depois ele ilustra o que diz com uma simples parábola, contrastando a bondade de Deus Pai com os homens (vs. 9-11).

Pedimos a Deus não para informá-lo, mas porque dependemos dele. Oramos porque esse é um canal de obtermos as bênçãos espirituais. Mas quando pedimos, buscamos e batemos, Deus não tem a obrigação de nos dar exatamente como gostaríamos, pois ele sabe o melhor para nós. Ele é nosso Senhor, não nosso servo. Ainda bem que é assim. Precisamos conhecer a vontade de Deus e orar com fé desejando o que queremos (Rm 10.1).

4. Nossa atitude para com todas as pessoas (v.12). Como tratar os outros? “Uma boa maneira é perguntar: “Como gostaria eu de ser tratado em tal situação?”

“Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas” (Mt 7.12).

Colocando-nos no lugar de outra pessoa, desejando-lhe o que gostaríamos para nós mesmos, nunca seremos maus, mas generosos; nunca rudes, mas sempre compreensivos; nunca cruéis, mas sempre bondosos. Esse versículo é tão abrangente em todas as relações humanas, que Jesus disse que nele se cumprem a Lei e os Profetas. Deus nos ajude.

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